Foi hoje publicado o Relatório de Estabilidade Financeira de dezembro de 2021 no qual se avalia os progressos da economia portuguesa e do sistema financeiro.
De acordo com o Banco de Portugal, a evolução da pandemia continua a ter impacto sobre a avaliação de riscos para a estabilidade financeira. Apesar de, no curto-prazo, estes riscos terem sido mitigados, a incerteza na vertente sanitária e a acumulação de vulnerabilidades podem traduzir-se na materialização de riscos no médio-prazo. Os efeitos da pandemia não estão ultrapassados, nem integralmente materializados, sendo ainda incerta a sua extensão total.
As principais vulnerabilidades e riscos para a estabilidade financeira, aprofundados nesta edição do Relatório, são:
- Reavaliação dos prémios de risco, em resultado do aumento de incerteza por parte dos investidores quanto à evolução da inflação e à reação das autoridades monetárias.
- Alterações nas condições de financiamento nos mercados internacionais, com impacto nos preços do mercado imobiliário residencial e no custo de financiamento do soberano e dos restantes sectores institucionais.
- Perturbações da atividade das sociedades não financeiras com impacto no incumprimento e materialização do risco de crédito, em particular nos sectores mais afetados pela pandemia.
- Subida do rácio de endividamento dos particulares em relação ao rendimento disponível, sobretudo decorrente do crescimento do crédito à habitação, que afetaria a resiliência financeira dos particulares a variações do desemprego e consequentes quebras de rendimento.
Para o sector bancário português:
- Deterioração da qualidade dos ativos e materialização do risco de crédito: importância de um adequado registo de imparidades para crédito.
- Materialização do risco de mercado, decorrente de um aumento das taxas de juro de longo prazo, com impacto negativo no valor dos ativos financeiros em carteira, com destaque para a dívida pública.
- Reduzida rendibilidade, num quadro de taxas de juro baixas, expansão limitada do mercado de crédito doméstico e concorrência acrescida em segmentos mais rentáveis.
- Desafios associados ao processo de digitalização da atividade bancária, incluindo a vertente da cibersegurança, e a transição para uma economia sustentável.
- A preservação da estabilidade financeira em Portugal dependerá, crucialmente, da situação financeira dos agentes domésticos e da capacidade de resposta das autoridades nacionais. O retomar das trajetórias de ajustamento do período pré-pandémico é, assim, essencial.
O Banco de Portugal poderá tomar medidas macroprudenciais dirigidas à mitigação da potencial acumulação de risco sistémico em alguns sectores.
Esta edição do Relatório de Estabilidade Financeira inclui dois temas em destaque:
- A situação financeira das empresas portuguesas no pós-pandemia de COVID-19;
- Reconstituição das reservas de capital: uma discussão sobre diferentes ritmos de convergência.
Apresenta ainda seis caixas:
Caixa 1 • Caraterização das empresas com pedidos de insolvência durante a pandemia;
Caixa 2 • A heterogeneidade do impacto da pandemia no endividamento das empresas em 2020;
Caixa 3 • Quantificação da proporção de empréstimos com garantia pública e em moratória concedidos a empresas zombie;
Caixa 4 • O contágio no incumprimento entre diferentes segmentos do crédito a famílias;
Caixa 5 • Perspetivas sobre a adoção de novas tecnologias de informação por parte dos principais bancos portugueses.
(Figura: Banco de Portugal)
Documento PDF