A pandemia de COVID-19 está a ter um impacto significativo na atividade dos agentes económicos nacionais, sejam eles consumidores, empresas, bancos ou organismos da Administração Pública. Este impacto reflete-se, de forma muita imediata, na utilização dos instrumentos de pagamento.
A entrada em vigor do estado de emergência e a adoção de medidas de confinamento generalizado conduziram, em março de 2020, a uma redução sem precedentes na utilização de cartões de pagamento.
Em março de 2020, foram efectuadas 167,4 milhões de operações com cartão, no valor de 9,2 mil milhões de euros. Estes números correspondem a decréscimos de 19,4% em número e de 10,2% em valor relativamente ao mesmo período do ano anterior, explicados pela redução dos levantamentos, das compras e das operações de baixo valor.
Em relação a março de 2019, os levantamentos de numerário diminuíram 31,5% em número e 20,4% em valor, tendo sido realizadas apenas 25,9 milhões de operações, no valor de 1,9 mil milhões de euros. As compras sofreram um impacto menos pronunciando: diminuíram 19,7% em número e 16,2% em valor, para um total de 86,9 milhões de operações em março de 2020, no valor de 3,3 milhões de euros. Devido à limitação do movimento de pessoas, os pagamentos em portagens e parques de estacionamento reduziram-se 21,9% em número e 24,5% em valor relativamente a igual período do ano anterior.
Especificamente no período compreendido entre os dias 19 de março (data em que começou a vigorar em Portugal o estado de emergência) e 20 de abril, estima-se que o montante dos levantamentos e compras tenha descido 46%. Em média, os portugueses terão levantado menos 34 milhões de euros por dia e efetuado menos 56 milhões de euros de compras. A redução das transações com cartão verificada ao longo deste período equivale a 1,4% do produto interno bruto (PIB) de 2019.
Tendo em consideração a estrutura económica nacional, os efeitos da pandemia de COVID-19 no turismo são expressivos. Em março de 2020, verificou-se uma quebra significativa do valor das compras e dos levantamentos efetuados por estrangeiros em Portugal. Estima-se que tenham sido gastos menos 182 milhões de euros em compras e efetuados menos 34 milhões de euros de levantamentos de numerário.
A actividade desenvolvida pela generalidade das empresas também foi fortemente afetada pela pandemia de COVID-19. Analisando os sectores nos quais as compras com cartão são mais relevantes, conclui-se que o comércio a retalho foi o único que registou uma variação homóloga positiva em março de 2020 (0,1%). As compras com cartão efetuadas nos restantes sectores diminuíram entre 7% (no comércio por grosso) e 56% (no alojamento). O sector mais afetado em termos absolutos foi o da restauração, com uma redução de 229 milhões de euros face ao transaccionado no período homólogo.
Não obstante a redução generalizada na utilização dos cartões de pagamento, as compras com cartão efetuadas com recurso à tecnologia contactless e as compras online apresentaram crescimentos assinaláveis em março de 2020.
As compras com a tecnologia contactless aumentaram 60% em número e 115% em valor face ao período homólogo. Esta evolução resultou num aumento de 4,5 euros no valor médio destas operações, que passou para 17,8 euros em março de 2020. A maior parte destas compras com a tecnologia contactless foram efetuadas no secor do comércio a retalho (76,5% em número e 82,9% em valor).
As compras online efetuadas com cartões nacionais continuaram a apresentar uma tendência de crescimento em número (11%), embora a um ritmo menor do que aquele verificado nos primeiros meses de 2020. Pelo contrário, registaram uma redução em valor (de aproximadamente 11% em termos homólogos), sobretudo devido ao decréscimo das compras realizadas a comerciantes fora de Portugal.
(Gráfico: Banco de Portugal)
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