Data: 26-05-2015
Mês: Maio
Ano: 2015
O Relatório de Estabilidade Financeira de maio de 2015, divulgado hoje pelo Banco de Portugal, conclui que, em 2014, o enquadramento do sistema financeiro português se caracterizou pela recuperação da atividade económica, quer em Portugal quer na área do euro, e pela continuação do movimento de correção dos desequilíbrios macroeconómicos, com particular destaque para a redução da dívida do setor privado não financeiro, refletida na manutenção da capacidade de financiamento interna. As taxas de juro mantiveram-se globalmente baixas, o que tem favorecido sobretudo as economias sob pressão e proporciona condições favoráveis para a continuação do processo de desalavancagem e de melhoria da posição de liquidez dos vários setores institucionais. No entanto, a sua manutenção, por um período longo, potencia riscos para a estabilidade financeira, tais como, uma incorreta avaliação do risco e, consequentemente, uma ineficiente afetação de recursos; um efeito dissuasor sobre a poupança dos agentes económicos a repercutir-se na atividade dos intermediários financeiros.
 
No caso do setor bancário, os resultados tornaram a ser negativos em 2014, apesar de se encontrarem em recuperação para a maior parte dos bancos. O processo de ajustamento do setor bancário continuou, em parte refletindo o ajustamento dos restantes sectores da economia, destacando-se a continuação da redução do ativo, e o aumento dos depósitos captados em Portugal, a diminuição do recurso ao financiamento junto do Eurosistema, a melhoria da posição de liquidez, dos resultados com operações financeiras e da margem financeira, a manutenção do esforço de diminuição dos custos operacionais e a estabilidade dos níveis de solvabilidade. Porém, este setor continua bastante pressionado pelos baixos níveis de rendibilidade observados, refletindo as baixas taxas de juro, os ainda reduzidos níveis de procura e os níveis de imparidade historicamente elevados num contexto de níveis de incumprimento igualmente elevados. A prolongar-se, a baixa rendibilidade do setor compromete a acumulação futura de capital, criando desafios adicionais ao negócio bancário. Os riscos associados a uma possível reversão abrupta do sentimento do mercado, à exposição ao setor imobiliário e a países exportadores de petróleo deverão ser avaliados e monitorados.
 
É também necessário manter os esforços para a correção dos ainda elevados níveis de endividamento do setor privado que caracterizam a economia portuguesa, aproveitando o contexto de maior crescimento nominal do produto e do rendimento disponível dos particulares. Em 2014, a dívida dos particulares continuou a reduzir-se. Nos últimos anos, a descida das taxas de juro permitiu uma diminuição significativa dos encargos com o serviço da dívida, atenuando os efeitos da redução do rendimento disponível sobre a respetiva situação financeira e permitindo conter o incumprimento deste setor. O endividamento das sociedades não financeiras diminuiu igualmente em 2014, de forma mais significativa do que em 2013. Neste contexto, o principal desafio consiste na manutenção dos esforços de desalavancagem das sociedades não financeiras, sem que tal implique restrições ao financiamento do investimento produtivo. A conjugação destes dois objetivos permitirá limitar prémios de risco e diminuir a exposição global da economia a possíveis alterações do contexto macroeconómico, promovendo assim um crescimento económico sustentável. A evidência recente aponta no sentido de uma reafectação do crédito para os setores mais produtivos e para as empresas com melhor perfil de risco. Este processo intensificou-se em 2014 e deverá prosseguir à medida que a retoma da atividade económica se acentue, contribuindo para aumentar a competitividade da economia e o seu crescimento potencial.
 
Além disso, a promoção da confiança dos investidores é igualmente crucial para assegurar a estabilidade financeira, pelo que é importante que as instituições financeiras mantenham comportamentos transparentes e ajustados aos conhecimentos financeiros dos seus clientes.
 
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